domingo, 18 de novembro de 2012

Era ganso ... e virou cisne



Estávamos em um boteco qualquer, num dia irrelevante para lembrar. Cada um de nós tinha o seu motivo para estar no bar. O meu era o de sempre, beber. O dele provavelmente era um desses objetivos típicos masculinos: Futebol ou uma companhia para a noite. Seja como for, eu olhei para ele e por algum motivo que tenha a ver com bebida e solidão, gostei do que vi. Gostei tanto que cheguei a sorrir. No começo, só queria ficar ali olhando mesmo. Mas ele percebeu meu sorriso e retribuiu. E quando eu menos esperava, ele veio falar comigo.

Não preciso nem dizer que começamos a sair. E eu comecei a gostar dele pra valer. Achava que enfim tinha encontrado um cara, o tal cara certo.

Os gansos são parecidos com os cisnes. Em partes. O Cisne é aquele animal belo, elegante que as pessoas usam para enfeitar o jardim. Inspirados em cisnes, alguém que eu desconheço apresentou um balé. Um cisne é como um balé. Delicado, leve e meio feminino para os nossos padrões.

O ganso, por sua vez, não enfeita jardim nenhum. O ganso sai correndo atrás de quem se mete a besta com eles. Na agressividade se for o caso. Se o ganso pudesse, tomava cerveja gritando “Tá impedido juiz ladrão”.

O meu novo cara parecia um ganso. Não fazia perguntas sobre o que eu queria fazer no final de semana. Parecia sábio o bastante para saber que nós, mulheres, nunca sabemos o que queremos. Por isso sempre compramos mais de um sapatos. Ele decidia onde me levaria e eu gostava disso. Também se oferecia para pagar a conta e sempre bebia mais do que eu.

Um dia brigamos. E ele bebeu demais e começou a chorar. Fiquei totalmente embaraçada, sem saber o que dizer e acabei pedindo desculpas sei lá porque. Quando eu era adolescente, lia nas revistas femininas que os homens não sabiam lidar com as lágrimas da mulherada. E percebi que na verdade ninguém sabe lidar com a lágrima alheia. Talvez os psicólogos, mas eles estudam anos e ganham p isso. Mas não eu. Naquele dia eu entendi porque um dia alguém inventou que os homens não devem chorar: Porque não há nada mais constrangedor que um homem chorar. E isso fica pior ao quadrado quando acrescentamos a voz que afina e as frases acusadoras. Vergonha alheia, a gente se vê por aqui.

Depois disso o cara resolveu fazer dieta. Começou com um papo estranho de evitar carboidratos e comer SALADA VERDE A VONTADE. Salada verde é a vontade porque ninguém aguenta comer mais do que a porção recomendada mesmo. Até aí a coisa estava chata. Mas um tempo depois ele decorou as calorias de todos os alimentos do mundo e seu principal passatempo era contabilizar tudo o que eu comia.

Experimenta tomar um choppe com a informação precisa de que ele tem mais de 300 calorias. A coisa não desce nem quadrada meu bem, desce triangular.

E para completar, o cara parou de beber.

-Uma água e uma cerveja. A água é para mim e a cerveja para a minha namorada.

E a garçonete respondeu:
-E a conta é p ela também?



Era uma vez um ganso que caiu numa piscina de purpurina, se enroscou numa pluma roxa e acabou virando um cisne. Desses que seguem as orientações da nutricionista e cantam “My Girl” de olhos fechados. Desses que tomam remédios para gripe e enxaqueca.

domingo, 4 de novembro de 2012

Paixão movida pelo ego?



Como saber se o que a gente sente por alguém é paixão mesmo, na lata, ou apenas ego? A princípio caro leitor, você vai me dizer que o sentimento da paixão é incomparável: Frio no estômago, pensamento nas nuvens, felicidade constante x desespero por perceber a catástrofe iminente, looongas conversas, depilação em dia se você for mulher e sexo bom.

Concordo. Paixão. E se o objeto dessa paixão for um moreno alto com cara de galã global? E se ele for aquele tipo que ouve the strokes no carro? Aquele tipo de cara que a gente achava que não se fabricava mais. Daí a paixão pode estar sendo movida pelo ego.

Explico: Sair com um cara que faz inveja em qualquer mulher – e alguns homens- faz um bem danado ao ego. Ainda mais se esse cara te pedir em namoro após a melhor transa da sua vida.

E eu te pergunto. Estaria apaixonada pelo cara que ele é hoje? Estaria apaixonada por um cara que prometia, mas não chegou lá. Estaria apaixonada com um corpo que deixou de ser uma união perfeita de músculos e bronzeado para dar “vida” a uma barriga de choppe e peitoral caído? Estaria apaixonada por um cara que na verdade é um tédio fantasiado de bom rapaz?

Não estou sendo fútil e dizendo que caras mais gordinhos não sejam amados. Muitíssimo pelo contrário. Estou dizendo que quando a gente gosta pra valer de um cara comum é porque é paixão mesmo. Mas quando o bofe é magia demais, pode ser apena o ego dando suas caras.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Autoestima flutuante





Sala de aula. A professora de anatomia fala sobre o esqueleto.

Pensamento 1: Esse jogo de quebra cabeça com a imagem na Monalisa é tentador.

E a professora diz:

-Costelas flutuantes.

-Hein???

-Isso mesmo, flutuantes.

Pensamento 2: Janela do avião. Olhando para fora é possível ver costelas flutuando pelo céu livremente com asas de anjo. Pera, costelas?

Pensamento 3: Eu sabia que aquele café do vendedor ambulante era batizado …

Costelas flutuantes são como amigas falsas, disse a professora. Ela estão ali, mas sustentar, sustentar não sustentam. Ficam soltas no corpo, e não são ligadas ao osso esterno. Em caso de acidentes são elas que perfuram os nossos órgãos.

Pensamento 4: Então é mais ou menos assim. A costela flutuante termina de ferrar com o que já estava ruim...


Fiz a analogia correta. A tal da costela flutuante é como a minha autoestima. Quando a balança, num dia lindo, glorioso, etc, etc, está marcando valores entre 49 à 52kg, a minha pele está iluminada e a minha conta do banco um oceano de tão azul, a minha autoestima está nas alturas.

Mas claro, não vivemos só de chocolate e vinho bom. O nosso cabelo tem vontade própria e tem dias que ele está afim só de zoar com a gente, secando em formas de ondas nada simétrica, com a franja espetada p cima, penteado inspirado no pica-pau, imagino. Meu delineador fica torto, por mais que eu seja muito boa nisso. E se eu for assaltada, é capaz de o bandido ter pena de mim e me dar um trocado. Vai me sugerir abandonar salas de aula e vai me dizer que tem uma vaga de relações públicas na quadrilha firma dele. Nesse dia não tenho coragem nem de paquerar o gordinho nerd da academia.

Isso é autoestima flutuante. Quando tudo vai bem, ela está ali ao seu lado como um cão de guarda fiel. Quando ela está ali, eu até tenho coragem de ligar para o cara que estou saindo e sugerir uma pizza. Ou tomar a iniciativa de um primeiro beijo. Quando ela está ali, normalmente o meu batom vermelho está na bolsa.

E quando ela não está??

-Garçom, me traz um choppe. Pera, um choppe não. Desce uma tequila. Melhor, traz logo a garrafa. E uns bolinhos de aipim com queijo para acompanhar. Não fui a academia a semana toda e o cara que eu estava pegando me trocou por uma nipônica sem bunda.