sábado, 26 de janeiro de 2013
Se apaixonar é uma piada de mau gosto
Laura era uma mulher com mais de trinta anos que tinha como principal característica o bom humor. Trabalhava e eventualmente saia com as amigas para beber e jogar conversa fora. Achava graça de como suas companheiras se apaixonavam por cafajestes e sofriam por eles. Dava conselhos se achando imune a tudo isso.
Se apaixonar e criar toda uma ilusão em cima de alguém que não te prometeu nada? Isso é coisa de adolescentes.
Mas cuspir p cima é levar uma catarrada bem no meio da testa. Um dia Laura, a super Laura, a moçoila genial, que não ama ninguém e acreditava ter ciumes apenas dos seus sapatos conheceu Luciano. Em um bar. Luciano, um desses tipos de cara que fazem até a mais indiferentes das mulheres perderem o fôlego. Luciano que toca violão e canta as próprias musicas. Luciano que tem tantas tatuagens pelo corpo que olhando assim, de perto, parece um caminho para o paraíso.
É claro que ela não acreditou naquele papo de encontro marcado e busca pela pessoa ideal. Mas deu seu telefone pra ele. E como a vida/ destino/ deuses/ a mistura do nome dele num papel cor de rosa coberto com mel (apelação) gosta de ver a gente quebrar a cara um pouco, ele ligou.
Sair no domingo não é bem o ideal. Mas ele toca violão e ele tem tatuagens. Como uma de suas amigas, desmonta o armário em busca da roupa que passe a mensagem certa, mesmo sem saber qual seria essa mensagem. E lá está ela no lugar e hora marcada.
O corpo dele e o corpo de Laura dançaram valsa em uma sintonia que parecia ensaiada. E ele teve o misterioso poder de virar Laura do avesso.
Laura se apaixonou por Luciano. Loucamente. Criou expectativas e uma linda festa de casamento imaginária. Escolheu nomes dos filhos, pensou em como seria dormir com ele todas as noites. Ficava distraída lembrando de como um rapaz que toca violão tem habilidade com as mãos. Com a cabeça nas nuvens, que é para quando cair em terra, criar um galo enorme e deixar de ser trouxa.
Como eu disse, se apaixonar é uma piada de mau gosto. Não demorou para o belo rapaz mudar o conteúdo das mensagens. E em vez de mandar para ela um “Essa noite então?” ele mandou “acho q as coisas estão indo rápido demais” que a esperta Laura traduziu adequadamente como: VAZA.
Laura curtiu aquela velha e boa fossa. Ouviu pagodes do “Só pra contrariar”, chorou, borrou o rímel e ficou uma ursa panda chique no seu vestidinho de cetim preto, adquirido para sair com o maldito. Alugou filmes de pancadaria, matou a garrafa de vinho branco de mesa suave pobre usado para temperar carne que estava dando bobeira na geladeira e dormiu agarrada num chaveiro de coração que o traste havia dado para ela. Humilhante como qualquer boa paixão é capaz de fazer.
Ainda bem que tudo isso passa. Até as boa piadas uma hora perdem a graça.
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